" Mas na profissão, além de amar tem que saber. E o saber leva tempo para crescer."
Rubem Alves
Rubem Alves
sábado, 19 de novembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Conselho de Classe
"Vamos nos reunir e fazer um conselho de classe. Digo, conselho de escola. Ou melhor... qual a diferença entre esses dois conselhos mesmo?" Talvez você nunca tenha se confundido com esses termos, mas saiba que a mistura entre eles pode gerar vários mal-entendidos.
Diferenças
O conselho de classe é o momento de professores, coordenadores e diretores se reunirem para conversar sobre o aproveitamento escolar dos alunos. Em algumas ocasiões, a ideia é simplesmente aprovar ou reprová-los diante dos resultados apresentados por eles no decorrer do ano. Outras vezes, a equipe pedagógica observa as disciplinas nas quais os estudantes apresentam mais dificuldade e formula aulas extras, diferentes programas de ensino ou metas a serem atingidas até o fim do ano letivo.
Já o conselho de escola é formado por professores, alunos, equipe pedagógica e pais de alunos. Ele é o responsável pelas decisões tomadas em benefício da escola, como pintura, organização, eventos, implementação de projetos, reformulação de políticas e o que mais precisar ser resolvido ou mudado. Mas será que a sua escola sabe fazer bom uso desse conselho? Abaixo seguem algumas dicas para você se organizar e transformar a sua instituição em um lugar bem organizado e produtivo.
Conselho de escola
Precisa contar com, no mínimo 20 e, no máximo, 40 participantes. O presidente do conselho deve ser o diretor da escola e o número de componentes tem de ser proporcional ao número de classes. Pais de alunos podem - e devem - tomar parte nessas decisões. É importante lembrar de que, para participar do conselho de escola, os indivíduos não precisam contribuir financeiramente com a Associação de Pais e Mestres, até porque a colaboração com esse órgão da sociedade civil deve ser voluntário.
Como eleger
A cada início de ano (antes do dia 31 de março), o diretor da instituição tem a tarefa de convocar as eleições do conselho. Considerando que existam 20 vagas para conselheiros, um deles deve ser especialista em educação. O único que não pode concorrer é o diretor, já que a tarefa dele é de presidir as seções. Podem cotar coordenadores pedagógicos, psicopedagogos ou orientadores educacionais.
Serão necessários ainda oito professores, cinco pais de alunos, cinco estudantes e um funcionário de outro setor da escola. Lembrando de que aluno só vota em aluno, professor só vota em professor, pais de alunos só votam em pais de alunos e as equipes pedagógica e de funcionários só elegem o seu representante. As eleições devem ser separadas por setor.
É importante ressaltar que a escola não pode interferir nos nomes de pessoas indicadas para fazerem parte do conselho. Também não é permitido que ela impeça conselheiros eleitos de participarem das discussões e decisões da instituição.
Após as eleições, os nomes dos membros do conselho precisam ser lavrados em ata e fixados em um mural ao qual todos tenham acesso. Além disso, a cada decisão tomada pelo conselho, um livro deve ser assinado pelos participantes. Esse documento deve ficar à disposição de toda a comunidade escolar para que os eleitores tenham conhecimento das obras propostas e realizadas por seus representantes.
Poder X democracia
O conselho de escola tem como função auxiliar a gestão financeira, administrativa e pedagógica da instituição. A princípio, tudo deve ser feito junto com o diretor da escola, mas se houver algum assunto que interfira na vida de toda a comunidade escolar e ele não quiser convocar uma reunião, 1/3 dos membros do conselho pode se reunir e tomar as decisões cabíveis.
O conselho é regulamentado por lei. Para obter rnais informações, entre em contato com a Secretaria de Educação ou com o MEC.
Na minha escola
Depois de saber de tudo isso, caro gestor, você deve estar se perguntando: "Muito bem, como eu posso organizar um conselho de escola para a minha instituição?", ou ainda, "Como posso fazer com que esse conselho realmente funcione?". Abaixo estão algumas dicas para que esse setor da sua escola possa fluir tranquilamente.
· Abra espaço para o diálogo. Seus alunos e colaboradores não podem ter medo de você. Assim, é importante que você seja uma pessoa comunicativa. Fale, ouça, olhe, reflita,
pergunte. Seja sempre educado e gentil com todos. Isso não fará com que lhe faltem com o
respeito. Pelo contrário, fará com que cada funcionário e aluno sinta-se à vontade para
procurá-lo sempre que precisar.
· Cobre responsabilidade. Se a data para estar com o conselho pronto e iniciando o
trabalho anual é 31 de março, faça com que tudo esteja pronto nessa data. Não delegue
essa responsabilidade, não "deixe para lá". Esse compromisso deve constar na sua agenda
de todos os anos.
· Pense no bem da escola. Pode ser que alguma atitude a ser tomada pelo conselho seja contrária aos seus valores, conhecimentos e crenças. É preciso deixar isso claro para o
conselho sem bloquear o poder de ação dele. Trata-se de uma democracia, e não de uma
ditadura.
· Campanha. Na época das eleições, os alunos precisam saber em quem votar; não trocar um voto por alguém que se renda fácil aos caprichos de urna minoria ou que não tenha
responsabilidade e maturidade para permanecer no cargo. Também não se pode votar por
votar nem participar ajudando a eleger aquele colega rnais briguento por medo de
represálias ou vontade de ver "o circo pegar fogo".
· Ensine e aprenda. Como esse conselho é formado por 75% de adultos e 25% de
crianças e adolescentes, é importante fazer com que esse momento seja de aprendizado
para todos. Os estudantes podem aprender noções de democracia, saber que estão ali
como representantes de uma parcela da população atingida por qualquer resolução e que a
opinião pessoal deles, em algumas situações, deverá ser posta de lado em função dos
interesses de seus eleitores. Os adultos, por sua vez, deverão aprender a respeitar o ponto
de vista dos jovens e suas solicitações.
· Empolgue. Qualquer eleição é importante. É a partir do voto que o estudante aprende que tudo o que é decidido na escola, no bairro, na cidade, no Estado e no País começa
com a permissão ou omissão dele. Lembre todas as turmas de que só votar não basta. É
preciso também cobrar os resultados das assembléias e a efetivação dos projetos: início,
meio e fim.
· Hora para tudo. Mesmo com todo esse aprendizado dos alunos, procure manter os
horários das aulas intacto. Aqueles estudantes que decidirem fazer parte do conselho
devem voltar para a instituição no contraturno escolar. Dessa forma, ninguém perde aula e
não há motivo para os alunos saírem do conselho no decorrer do ano letivo.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê(Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê(Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.
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